Correr ou andar, como enfrentar as subidas de Canasvieiras no Ironman Florianópolis

Atualizado em 20 de setembro de 2016
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Atualizado com o novo percurso a partir de 2015

Os 42km da maratona em Florianópolis tem um ponto chave e desafiador: a temida subida de Canasvieiras. Saber como abordar esse trecho do percurso é fundamental para correr uma boa maratona na prova.

Dez a cada dez atletas que já correram o Ironman Brasil, quando perguntados sobre qual o ponto mais difícil do percurso, dirão a mesma coisa: a subida de Canasvieiras. Temida por muitos, esse trecho da prova não vai fazê-lo alcançar seus objetivos de tempo, mas pode acabar com suas pretensões de completar os 226 km em um tempo determinado. Por isso, saber abordar esse ponto de forma consciente é fundamental para que os outros quilômetros da maratona não sejam um martírio.

Apesar de ser tão impactante, principalmente em relação ao aspecto psicológico, Canasvieiras é um trecho muito pequeno se comparado com a distância da maratona. Até o quilômetro 4, a maratona é plana. A partir daí são quase dois quilômetros subindo e descendo. O que impressiona mesmo é a primeira subida, que tem pouco mais de 300 metros. Depois do trecho ondulado, são dois quilômetros planos, o retorno, e mais dois quilômetros planos até encarar a subida no sentido contrário, em direção a Jurerê Internacional. Vale lembrar que, a partir do km 12, a corrida fica 100% plana, já que as subidas só existem na primeira volta da maratona, de 21 km. Nas duas voltas seguintes, de 10,5 km, não há subidas.

Marino com um trote leve em 2015

Marino com um trote leve em 2015

O grande dilema que se coloca para os atletas é o seguinte: vale a pena correr nas partes mais íngremes da subida, ou o tempo ganho será perdido depois, devido ao desgaste? Há pouca diferença de tempo entre caminhar e correr nas subidas. Assim, a decisão não deve ser tomada em relação ao tempo da subida em si, mas o impacto que ela tem sobre seu tempo depois.

Andar não vai fazê-lo um atleta mais lento

Não é raro ver atletas gritando, orgulhosamente, na subida de Canasvieiras: “Eu não vim aqui para andar!” Poucos quilômetros depois, esses mesmos atletas estão andando, contra sua própria vontade por quilômetros e quilômetros. Matematicamente falando, correr na subida principal de Canasvieiras vai fazê-lo ganhar, no máximo, um minuto e trinta segundos. Esse tempo é o mesmo que correr 2 segundos por quilômetro mais rápido ao longo de toda a maratona. Já o desgaste de subir correndo pode levá-lo a correr ou andar a 20 ou 30 segundos acima do seu ritmo planejado na maratona.

Muitos atletas andam em Canasvieiras, inclusive profissionais. Há aqueles que não andam porque se andarem, não conseguem voltar a correr. E ainda os que não andam pelo orgulho (esses, normalmente, acabam andando muito ao longo dos 42 km). Há quem ande sistematicamente por toda a prova e ainda tenha ótimas maratonas. Um grande exemplo é o atleta amador Cristiano Santos. Cristiano foi o melhor amador geral no Ironman Brasil 2011, além de ter a melhor maratona amadora há anos, inclusive com tempos abaixo das 3 horas. Ele conta que sempre sobe Canasvieiras trotando, bem de leve. A caminhada, contudo, faz parte de sua estratégia de prova: “Em provas de Ironman, eu caminho em todos os postos de hidratação para comer após o km21, me hidratar bem e aproveito para descansar. O atleta deve fazer o que seu corpo está pedindo naquele momento.” Esse tipo de abordagem, contudo, precisa ser treinada, mesmo que seja neste mês final da preparação.

Vice-campeão da prova em 2011, Guilherme Manocchio é mais um adepto da caminha nas subidas: “Para que se matar em 300m de subida quando se tem mais de 40 km de plano? Se precisar caminhar na subida, relaxe. Muitos profissionais também caminham, eu inclusive, mas corra tão logo quanto possível. O fato é que, definitivamente, você não precisa atingir o máximo dos seus batimentos cardíacos nessa subida.”

Há opiniões contrárias. Vanessa Gianinni, terceira colocada e melhor brasileira em 2012, é daquelas que “se começar a andar, vou querer andar o tempo inteiro”. Se você se encaixa nessa categoria, faça como ela: suba correndo devagar, mas corra. Ariane Monticeli, a campeã de 2015, também subiu correndo. No entanto, o campeão do ano passado, Marino Vanhoenacker, subiu em uma caminha/trote.

Certa vez, o hexacampeão do Ironman do Havaí, Dave Scott, declarou: a hora de fazer força de verdade em um Ironman é nos 10 km finais. Ciro Violin, que foi campeã mundial de Ironman como amador e agora corre como profissional é enfático: “Não se sinta envergonhado por subir caminhando se for preciso.” Segure o orgulho se vir alguém te passando, pois essa é uma prova longa e as subidas são apenas o começo de tudo. O orgulho de completar a prova forte, correndo bem os 10 km finais, será muito maior.

“Nessa altura da maratona, a prova da corrida ainda não começou de verdade. Até ali todo mundo ainda tem energia, mas não pode gastar tudo ao querer fazer as subidas em um ritmo forte. Com isso, deixaria parte das suas pernas no primeiro terço da maratona. Até diria que, para quem não tem uma corrida leve, não é magro e tem dificuldade na hora de subir, que não vai fazer diferença no tempo final se o atleta decide andar, já que o ritmo, nesses casos, será muito próximo andando ou correndo. Se o atleta cuida das pernas no começo da maratona, no final ainda estará com energia” – Ezequiel Morales, campeão do Ironman Brasil 2012.

Thiago Vinhal, um dos melhores corredores da elite brasileira lembra ainda que essa é uma oportunidade para se hidratar, tomar um gel e refrescar um pouco a mente: “O visual lá de cima é muito bonito, então é uma boa oportunidade para descansar a mente, mesmo que rapidamente, o que já ajuda muito. Com a mudança das subidas do km 9 para km4, muitos atletas passaram a correr mais, pois estão mais descansados.

Cuidado com as descidas

A última armadilha da subida de Canasvieiras está na volta, na longa e íngreme descida. A princípio, parece um convite para aumentar o ritmo e tirar o tempo perdido na descida. No entanto, descer forte demais significa, via de regra, dores fortes mais à frente, especialmente no quadríceps. Vice-campeão em 2012 e treinador de uma das maiores assessorias focadas em Triathlon do país, Santiago Ascenço recomenda muita atenção e cuidado a seus alunos para encarar a descida, já que o risco de sentir dores na volta é ainda maior.

Técnica para correr nas subidas e descidas de Canasvieiras

  • Encurte suas passadas;
  • Incline seu corpo um pouco mais para frente;
  • Controle a intensidade para a frequência cardíaca não subir muito, mas movimente um pouco mais os braços;
  • Não aumente o ritmo rapidamente após a subida, faça-o de forma progressiva;
  • Reduza a velocidade nas descidas em nome da segurança e para evitar dores futuras;
  • Treine o que pretende fazer na prova, principalmente no mês final antes da competição.

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