Um Ironman só para chegar lá

Atualizado em 25 de julho de 2016

A engenheira civil Ana Lídia Borba não esperava tanto. A triatleta amadora goiana de 22 anos desembarcou na Flórida (EUA) para participar da final do Ford Ironman World Championship 70.3, no último dia 11 de novembro, pensando que poderia ficar entre as seis primeiras e fazer um tempo em torno de 4h50. No final da prova, estava reservado o lugar mais alto do pódio. Ana Lídia venceu na categoria 18-24 com o tempo de 4h36min14s e mostrou a força do triathlon amador brasileiro.

Como ela, muitos outros brasileiros conquistaram resultados expressivos na prova de 1.9 km de natação, 90,1 km de bike e 21.1 km de corrida, realizada em Clearwater. Nesta mesma categoria, outra brasileira entre as top 10, a brasiliense Pamela Sena ficou com a 9ª colocação. E eram tantos os triatletas brasileiros por lá que o mestre de cerimônia da prova comentou que era a segunda maior delegação estrangeira nesta edição do Ironam 70.3, perdendo apenas para a Grã-Bretanha (cerca de 40 brasileiros participaram da prova). O grupo brasileiro mereceu destaque também por ser um dos mais animados, -com direito a chegada atrasada na festa de sábado-, brinca Ana.

A campeã Ana Lídia (patrocinada e apoiada pela Tribo do Açaí, MB Engenharia, e Estrata Auditoria e parte da equipe Átrio Training Clube), pode servir de retrato para exemplificar a dedicação e a paixão dos triatletas amadores brasileiros pelo esporte. Eles encaram uma dura jornada de treino, milagrosamente adaptada entre os inevitáveis horários de trabalho, enfrentam dificuldades para viajar e competir, e quando essas viagens são nos Estados Unidos, então, soma-se aí o tormento na hora de conseguir um visto, como relata logo abaixo o triatleta Claudinei Pires, em sua epopéia para participar da final do Ironman no Havaí, em outubro.

Ana conseguiu negociar um horário flexível no trabalho para fazer os treinos, que começam às 6h30 e terminam por volta das 11h00. Ao meio-dia está sentada no escritório, que deixa às 19h00 para treinar novamente.

No Ironman 70.3 em Clearwater, algumas confirmações de expectativas, mas também surpresas para os triatletas amadores. Ana relata que a corrida feita pelas triatletas amadoras estava aquém do que ela supunha, por exemplo. No ciclismo, Ana garante que o nível é altíssimo. -A disputa é muito forte, é nivelado por cima-. Já a natação é dentro do que esperava. -Os brasileiros estão nadando bem-, diz.

-A prova foi extremamente rápida, pois foi realizada em um circuito absolutamente plano, com pouquíssimas subidas (somente subidas de pontes), tanto no ciclismo quanto da corrida. No dia da prova, o tempo ajudou bastante, pois não ventou significativamente, o que proporcionou uma natação em mar tranqüilo e um ciclismo constante-, conta Ana, que lidera atualmente o Troféu Brasil de Triathlon entre os amadores e ficou em primeiro também no Reebok Long Distance, em Pirassununga/SP.

No caso de Claudinei Pires, a epopéia que mobilizou muitos amigos triatletas foi o fato do Consulado Americano ter negado para o atleta o visto de entrada nos EUA. À véspera da prova, depois de ter o visto negado, e até cancelado vôo e hotel, Claudinei não tinha mais esperança alguma. Porém, em pleno feriado prolongado (12/10), faltando apenas alguns dias para a prova, o consulado resolve conceder o visto para Claudinei, que desembarcou no Havaí sem sequer saber onde iria dormir. E para ajudar no roteiro, ainda teve o forte terremoto que abalou a ilha na semana anterior. -Por fim, muitos ficaram assustados com o terremoto e desistiram de ir. Consegui alugar um quarto em uma casa-, conta o professor de 39 anos, que administra em Sorocaba, interior paulista, uma empresa de organização de eventos, a Esporte Organizado.

-Por conta do trabalho que foi para tentar conseguir o visto não pude me dedicar como queria aos treinos antes do evento. Foi muita tensão para ir e demorei para me concentrar para a prova ao chegar-. Claudinei relata outro fator que atrapalhou sua concentração, uma vez no Havaí – a tietagem. -Você chega e começa a encontrar atletas que admira, os melhores do mundo, não é fácil se concentrar-, brinca Claudinei.

Atualmente, Claudinei está se dedicando em acompanhar a triatleta alemã Nina Kraft, que decidiu iniciar sua temporada de treino para 2007 no interior paulista. -Se a minha preparação começasse hoje para o Ironman me dedicaria mais ao ciclismo, que é extremamente forte entre os triatletas estrangeiros. Fiquei impressionado com o nível, atletas bem mais velhos te ultrapassando e fazendo provas incríveis-, diz. Claudinei diz que quer conseguir a classificação para o Ironman 2007, só que desta vez quer ficar entre os 10 melhores.

Depois da experiência de um Ironman nos Estados Unidos, tanto Claudinei como Ana Lídia chegaram à mesma conclusão: a organização das prova no Brasil é excelente e não deixa a desejar em nada para as disputas que participaram. -Triatleta que reclama de vácuo aqui no Brasil tem que ver como é lá fora. Aqui praticamente inexiste-, diz Claudinei, o que Ana Lídia também concorda.