Rafale ForteFoto: Rafale Forte

Crews x assessorias: qual treino é ideal para você?

Atualizado em 04 de setembro de 2018
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Assessorias esportivas e crews de corrida se multiplicaram em grandes cidades brasileiras nos últimos anos. Vestidos com camisetas idênticas aos seus companheiros de treino, os corredores que participam de assessorias e crews se reúnem semanalmente para correr, trocar informações sobre a modalidade e, por que não, socializar. Embora as propostas pareçam semelhantes para alguns, há diferenças marcantes nos métodos e nas propostas dos grupos. Mas, afinal de contas, qual formato se encaixa melhor ao seu estilo de vida e aos seus propósitos na corrida?

O Ativo acompanhou um treino em uma grande assessoria esportiva e esteve em diversos encontros de duas crews de corrida de São Paulo. A proposta era entender quais são os anseios de quem frequenta cada ambiente e como os treinos são desenvolvidos.

Crews de corrida: descontração e pace sem compromisso

Às quintas-feiras, no Parque Ibirapuera, os treinos do grupo Outra Fé, um entre as dezenas de crews que se espalharam por São Paulo nesta década, são precedidos pelo “divã da corrida”. Em uma espécie de gincana, um participante é convidado para falar sobre o motivo que o levou a procurar a corrida e os benefícios que o esporte provoca em sua vida.

Na primeira quinzena de agosto, Paulo Simões, de 40 anos, quebrou a onda de relatos bem-humorados das semanas anteriores. Diante de cerca de 40 pessoas – jovens com idades entre 25 e 30 e poucos anos são maioria ali –, lembrou de um drama familiar que a corrida ajudou a amenizar e recebeu aplausos dos presentes.

O clima acolhedor se estende ao aquecimento, comandado pelo professor de educação física Renan Rodrigues e recheado de brincadeiras de duplo sentido entre os líderes. Os trocadilhos, invariavelmente, arrancam risadas dos presentes e ajudam a quebrar o gelo entre aqueles que visitam o grupo pela primeira vez.

 

Em seguida, os líderes da crew anunciam que o grupo se dividirá em três pelotões. Dois pelotões fazem 5 km em ritmos diferentes – o mais rápido, em um pace na casa dos 5 minutos por km – ou abaixo disso, dependendo do ânimo do pacer –, e o mais lento girando entre 5min30s e 5min45s. A turma dos iniciantes percorre 3 km em um ritmo de trote, beirando os 7 minutos por km.

“Eu acho que o crescimento das crews vem do sentimento do jovem de pertencer a um grupo. Queremos ser um ambiente em que as pessoas possam se conhecer e praticar esporte. É uma proposta mais humanista. Como nossos treinos são abertos, nunca sabemos o que pode chegar, então queremos que seja uma experiência boa para todos”, diz Leopoldo Longo, de 29 anos, um dos líderes do Outra Fé.

“A crew pode ser uma porta de entrada para a assessoria. Como não temos a barreira do dinheiro, o jovem que está querendo começar a correr mais pode ver na crew se realmente quer investir em uma assessoria e talvez melhorar a sua performance”, acrescenta Longo.

O viés de socialização está muito presente no discurso daqueles que frequentam as crews e, muitas vezes, vem à frente da própria performance esportiva. Acostumado a longas rodagens e com uma edição da Maratona do Rio no currículo, Murilo Botelho, de 29 anos, é figurinha carimbada nos treinos da Outra Fé.

“O que eu gosto ali é a energia, a vontade de mostrar que a corrida vai muito além de um esporte. A corrida tem um poder de mudar a vida de todos. Eu fui tocado por alguns amigos que correm. Minha intenção de ir todas as quintas é motivar pessoas da mesma forma que eu fui motivado”, conta Botelho.

Assim como nas outras crews de corrida, não é necessário pagar nada para participar dos treinos da Outra Fé. Todos os custos referentes à estrutura do grupo são bancados pela Puma, parceira da crew.

 

 

Contato inicial com a corrida

Fundado neste ano, o Vem Pro Corre, crew que se reúne às 20h15 das terças-feiras na Praça do Ciclista, na região da avenida Paulista, chega a receber mais de 100 pessoas em alguns treinos. As noites frias costumam afastar os corredores. A maior fatia do grupo é de iniciantes, garante a líder Fabiana Burlim, de 35 anos.

“Nós começamos em um pelotão só. Aqueles que correm menos vão ficando para trás. Sempre um dos embaixadores acompanha um dos pelotões. Queremos passar a ideia de que ninguém corre sozinho. Temos visto que muitas pessoas se apaixonam pela corrida através do Vem Pro Corre”, alega.

A exemplo de outras crews, o público no Vem Pro Corre, apoiado pela O2 e pela Under Armour, é transitório – embora dezenas de corredores compareçam todas as terças. Ao fim dos 5 km de cada treino, todos os corredores são cumprimentados pelos companheiros em uma espécie de “corredor polonês do bem”. Dezenas de pessoas estendem as mãos para saudar quem chega.

Como em todas as crews, os corredores millenials fazem questão de registrar os treinos em suas redes sociais. Sempre há um fotógrafo para clicar os movimentos e poses dos participantes do Vem Pro Corre. “A galera gosta de tirar foto para postar durante a semana”, diz Burlim.

Assessoria: plano esportivo em primeiro lugar

Desejo de disputar uma maratona, busca por performance mais rápida e a vontade de eliminar o sobrepeso são alguns dos motivos que conduzem uma pessoa a uma assessoria esportiva. Lá, a socialização é uma consequência de meses de treinamento e objetivos compartilhados. Diferentemente das crews, o público nas assessorias é mais maduro e disciplinado, girando entre os 35 e 60 anos. Até por envolver um custo fixo, dificilmente alguém entra ali sem ter um objetivo em mente.

Na última quarta-feira (29), o Ativo acompanhou um treino na assessoria esportiva de Adriano Bastos, uma das maiores de São Paulo, com três pontos de treino. Ex-atleta de elite, Bastos conta com cerca de 400 pessoas em seu quadro de alunos, entre os que frequentam os treinos no Ibirapuera, na USP, no Ipiranga e os que optam pelo treinamento virtual, com envio de planilhas. Cerca de 30% dos alunos disputam maratonas regularmente.

Enquanto os líderes de crews de corrida gostam de repetir que “é só chegar” – uma maneira informal de dizer que não é preciso desembolsar nada e que todos são bem recebidos nos treinos –, as assessorias seguem procedimentos padrões para acolher futuros alunos. Na assessoria de Adriano Bastos, antes de começar a treinar, é preciso se submeter a um exame de sangue, um ecocardiograma e um teste ergométrico. Além de ser sabatinado sobre seus objetivos no esporte, o corredor também passa por um teste físico, necessário para que a equipe técnica avalie como inseri-lo dentro do grupo. Essa criteriosidade é essencial para não colocar ninguém em risco e não gerar lesões, afirma Marcelo Raffani, um dos coordenadores da assessoria.

 

Embora os “rosinhas”, como os alunos de Adriano Bastos são conhecidos nas provas paulistas em razão das camisetas cor de rosa que utilizam, sejam associados à competitividade, há quem prefira dar seus primeiros passos na corrida já sob a orientação de quem conhece do assunto. Enquanto o repórter do Ativo conversava com Raffani, um aluno recém-chegado à assessoria e visivelmente empolgado, contava que havia corrido os primeiros 5 km de sua vida. “Isso é mais comum do que parece”, contou o treinador, dando a entender que planilhas e planejamento não são só para os corredores ultracompetitivos.

Na assessoria de Adriano Bastos, está “todo mundo junto, mas, ao mesmo tempo, separado”. Isso quer dizer que, embora os treinos sejam feitos em grupo, cada um tem sua planilha, seu planejamento e, claro, seu ritmo. No treino acompanhado pelo Ativo, dois professores comandavam tiros de 2min30s com 1min20s de intervalo. Os alunos tinham que rodar em uma praça de 500 metros dentro do Parque Ibirapuera. Alguns corriam mais do que os 500 metros nos 2min30s. Outros levavam mais tempo.

A alguns metros dali, a treinadora Daniele Piotti comandava um treino de fortalecimento – também incluso no plano dos alunos. Para evitar lesões e turbinar o rendimento na corrida, o fortalecimento ali é feito com o peso do próprio corpo, mas com séries mais longas para compensar a ausência de carga. São burpees, flexões, abdominais e outros tipos de exercícios funcionais.

Sinais de falta de comprometimento, como as ausências sem justificativa, não são encarados com naturalidade na assessoria. “Se um aluno falta três dias seguidos, já entramos em contato para saber se aconteceu algo”, lembra Raffani.

O plano mensal na assessoria de Adriano Bastos custa R$ 200, com descontos para planos mais longos.