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Uma das mais, senão a mais famosa das corridas, a maratona faz parte do consciente coletivo e todo mundo lembra da história do soldado que correu teria corrido 42 km entre o campo de batalha de Maratona até Atenas para anunciar aos cidadãos da cidade a vitória dos exércitos atenienses contra os persas e morreu de exaustão após cumprir a missão, lá por volta de 490 a.C.
Mas você sabia que a origem das corridas de grandes distâncias tem outro ancestral? Existem em documentos muito mais antigos que este tipo de prova já era disputada séculos antes da civilização grega, no Antigo Egito. O faraó Taraca que viveu séculos antes dos acontecimentos entre atenienses e persas, instituiu uma corrida de longa distância para manter seus exércitos em alto preparo físico, numa distância aproximada de 100 km, o que nos dias de hoje é considerada uma ultramaratona. Esta corrida é hoje revivida no Egito com o nome de “Pharaonic 100km” e é disputada entre a pirâmide de Hawara, em Faium, e as pirâmides de Sacara, a sudoeste do Cairo.
Conta-se que a maratona nas Olimpíadas modernas surgiu a partir da mítica corrida de Filípides da cidade de Maratona até Atenas. Naquela ocasião, por volta de 490 a.C., a notícia da batalha deveria ser urgentemente repassada aos gregos que habitavam a cidade de Atenas. Para que a tarefa fosse realizada, as tropas gregas elegeram o habilidoso soldado Filípides para percorrer a distância de quarenta e dois quilômetros que separava a cidade de Atenas e a planície de Maratona. O esforço que Filípedes empregou em sua missão foi tão grande que, ao chegar a seu destino, noticiou a vitória grega e logo morreu com o desgaste da missão.
A lenda do soldado grego Filípedes e sua missão seguiu despertando a admiração das pessoas ao longo do tempo. Chegando até o momento em que a corrida e morte dele foi incorporada num popular poema de Robert Browning, famoso poeta e dramaturgo inglês do século XIX. O texto habitava a imaginação de Pierre de Coubertin quando decidiu reviver os Jogos Olímpicos no fim daquele século. A ideia de Jogos Olímpicos internacionais nasceu do entusiasmo de Coubertin sobre o legado da Grécia, das escavações arqueológicas em Olímpia, dos eventos esportivos chamados de “olímpicos”, e especialmente, dos Jogos Olímpicos de Much Wenlock na Inglaterra. Ele tornou-se o presidente do COI e foi reeleito diversas vezes até deixar o cargo em 1925.
A inspiração para os jogos que conhecemos hoje, era a celebração de uma trégua entre as cidades-estado gregas, que viviam em conflito. Como hoje, eram disputadas de quatro em quatro. Aliás, dá-se o nome de “Olimpíada” a esse intervalo de tempo. Uma espécie de Senado Olímpico decretava a trégua e, então a partir deste momento, atletas, juízes, artistas e familiares podiam viajar em segurança e tinham direito a um mês de preparação para as competições. Diferente dos Jogos Olímpicos da Era Moderna, os da Antiguidade aconteciam sempre na mesma cidade: Olímpia, que era considerada sagrada. No templo de Zeus eram premiados os vencedores que competiam no hipódromo e no estádio em provas de corrida, arremesso, lançamento, salto, lutas, pentatlo e a cavalo.
Normalmente se diz que os Jogos Olímpicos da Antiguidade começaram a ser disputados em 776 a.C., mas existem registros de competições realizadas antes desta data. E dali em diante foram disputadas 293 edições. É a fase em que conhecemos hoje como os Jogos Olímpicos da Grécia Antiga. A tradição começou a ser quebrada a partir do momento em que a região foi dominada pelo Império Romano, em 149 a.C. por conta de um conflito de culturas. Para os gregos, competir era lutar pela glória pessoal, enquanto para os romanos era um espetáculo para o público. Assim, aos poucos, os espetáculos foram se tornando mais populares do que as competições esportivas.
Uma das mais longas, desgastantes e difíceis provas do atletismo, a maratona é, ininterruptamente, uma prova olímpica desde a primeira edição dos Jogos Olímpicos, em Atenas 1896. Sua distância atual, percorrida pela primeira vez em Londres 1908, só se tornou oficial em 1921. E sim, é verdade aquela famosa história que o percurso da maratona sofreu uma alteração para que a família real britânica pudesse assistir ao início da prova do jardim do Castelo Windsor, dando origem a atual distância oficial de 42.195 metros, que continua até hoje.
Spiridon Louis, com o tempo de 2h58min50sec, fazendo a média de 4min28 por quilômetro, foi o vencedor da primeira disputa. A estreia das mulheres nos Jogos Olímpicos só veio a acontecer muito tempo depois, no ano de 1984 em Los Angeles, com a norte-americana Joan Benoit Samuelson saindo vitoriosa com o tempo de 2h24.
Outra curiosidade que pode pegar muita gente incrédula em tempos de tênis cheio de tecnologias, a maratona já teve um campeão olímpico correndo de pés descalços, com direito a bater recorde. O africano Abebe Bikila é o autor da façanha, nos jogos de Roma, em 1960.
Por fim, a maratona tornou-se, tradicionalmente, o evento que sempre encerra os Jogos Olímpicos.
Sem dúvidas, o maior nome brasileiro da prova é Vanderlei Cordeiro de Lima. O atleta e sua emblemática postura na maratona das Olimpíadas de Atenas garantiu não só a medalha de bronze, primeira e única do nosso país, como a admiração de todo o público ao chegar comemorando no estádio olímpico depois de ser interrompido por um padre irlandes enquanto liderava a corrida. Vanderlei ainda recebeu a Medalha Pierre de Coubertin, maior honra olímpica, por sua postura.
Eleonora Mendonça foi a primeira brasileira a participar da maratona feminina, na estreia da prova em 1984. Outras que se destacaram foram Carmem Sousa de Oliveira Furtado, que participou dos Jogos de Atlanta, em 1996, e Márcia Narloch que esteve em Atenas, em 2004.
Em Tóquio 2020, disputada em 2021, Daniel Ferreira do Nascimento, Daniel Chaves da Silva e Paulo Roberto de Almeida Paula foram os representantes do Brasil na prova. Daniel Nascimento foi um dos grandes personagens da disputa, chegando a liderar a prova, mas acabou não conseguindo acompanhar o ritmo, passou mal e abandonou a corrida. Curiosamente, era somente sua segunda maratona, então podemos esperar mais para as próximas edições.
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