Luto e Esporte: Ressignificação da perda para além do corpo

Natalia Aguilar
Atualizado em 14 de fevereiro de 2023

Uma das formas de se promover saúde física se dá por meio do esporte e ele tem sido também um grande aliado quando nos referimos à lida de adoecimentos mentais ou psíquicos.

O esporte contínuo, além de melhorar nosso condicionamento físico, ajuda também nosso corpo na produção de endorfinas responsáveis por sensações de alegria, prazer e satisfação. Desta forma, o esporte pode contribuir muito com questões como estresse, ansiedade ou depressão, já que nessas circunstâncias, temos o aumento ou diminuição das substâncias supracitadas, que provocam tais adoecimentos.

Pensando nisso, porque não aliarmos a pratica de esportes com períodos da vida em que nos encontramos enlutados pela perda de algo ou alguém significativo em nossas vidas?

O conceito de luto é definido pela literatura contemporânea como uma reação natural e esperada de um indivíduo diante de qualquer perda ou quebra de vínculo significativo que ele tenha no decorrer de sua vida. É um processo difícil em que há a necessidade de reconstrução do “mundo presumido”, ou seja, faz-se necessária a reconstrução do mundo que, antes conhecido e previsível, após uma perda, torna-se um lugar de muitas angustias e incertezas. É necessário dar um novo significado a esse mundo que ficou sem a pessoa ou objeto perdido e, essa travessia poderá ser mais ou menos dolorosa de acordo com nossos recursos emocionais para lidar com a perda. Assim, experiências de luto, costumeiramente são carregadas de muita dor e tristeza, além de uma grande falta de sentido de vida que pode tomar espaço na vida do enlutado.

Desta forma, ter a consciência de que esse período será um período difícil, é importante para que possamos conhecer e nos reencontrarmos na nova vida que se instala, a vida sem aquilo ou aquele que se perdeu.

E onde o esporte entra em tudo isso?

Como abordado no início, o esporte tem sido um grande aliado na prevenção de adoecimentos psíquicos. O luto em si não se configura como um adoecimento mas, se não vivenciado ou não legitimado pela sociedade, poderá virar uma grande mala pesada com objetos que já não tem funções em nossas vidas e nos causará um cansaço e dores terríveis no corpo. Assim, para se ter folego, disposição e vontade de limpar essa mala, o corpo e mente necessitam de fortalecimento.

Aquela expressão em latim que diz “mens sana in corpore sano” (uma mente sã em um corpo são), retrata um pouco do que quero dizer aqui.
Já que o luto é uma experiência que, inevitavelmente trará algum tipo de dor, podemos pensar que o exercício poderá nos preparar ou nos reabilitar para lidar com essa dor.

É importante que se leve em conta o tempo de cada, pois a ideia não é que você substitua a sua dor por um exercício físico. Sua dor precisa ser vivida para que você amenize ela, mas em momentos onde as ações de pesar frente a uma perda já não tomem conta do cenário, exercitar-se pode ser uma boa estratégia para fortalecer o corpo e a mente e se reconstruir em meio ao novo cenário.

Encerro com a frase de Carlos Drummond de Andrade que diz que “a dor é inevitável, o sofrimento é opcional” para frisar que há formas de se reconstruir depois de um luto, mas que para isso, precisaremos fortalecer nosso corpo e nossa mente, nos voltando para além do pesar, mas também para a reconstrução da vida e, dar movimento, por meio do exercício, à inércia que uma perda provoca, pode ser uma alternativa muito válida, além de saudável, para se atravessar esse processo.

Conheça mais o trabalho em psicologofreguesiadoo.com.br e pelo @nataliaaguilarpsicologa

Natalia Aguilar

Natalia Aguilar

Natália Aguilar, psicóloga, CRP 06/92570. Formada pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e atuante na área clínica em meu consultório desde 2008. Especialista em psicologia clínica e psicologia da saúde pelo Conselho Regional de Psicologia CRP-SP. Tenho como orientação psicológica a abordagem da Gestalt-terapia na qual sou formada pelo Instituto Sedes Sapientiae desde 2013. Atuo na clínica com diversas questões da contemporaneidade, como ansiedade, stress e depressão, e meu foco de estudos e trabalho é com os temas que envolvem Luto e Perinatalidade, temas dos quais também sou especialista.

Ver mais