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O anticoncepcional atrapalha o desempenho na corrida?

Atualizado em 14 de maio de 2019
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Entre os diversos métodos contraceptivos, o anticoncepcional se destaca por suas possibilidades de uso.

Afinal, sua única função não é apenas a de prevenir uma gravidez, mas pode ajudar a tratar ovários policísticos, por exemplo.

Embora tenha seus benefícios, muito se tem questionado sobre seus efeitos colaterais.

Principalmente depois que foram divulgados estudos e pesquisas relacionando a pílula a sérios problemas de saúde, como a trombose.

A base da fórmula

Antes de avaliar os prós e contras do medicamento, é preciso entender sua composição.

Basicamente, as pílulas anticoncepcionais de uso oral são produzidas a partir de dois hormônios, o estrogênio e a progesterona.

“Existem medicamentos com um só hormônio (no caso, a progesterona), e existem os que têm ambos. Em relação ao estrogênio, há a possibilidade de ele ser sintético ou natural”, explica a ginecologista e obstetra Sílvia Gomyde Casseb.

As pílulas que são feitas apenas de progesterona, conhecidas como minipílulas, geralmente são de uso contínuo e podem ser usadas durante a amamentação, inclusive.

Como o anticoncepcional age

Os hormônios atuam no eixo hipotalâmico hipofisário, responsável pela variação hormonal típica do ciclo menstrual, inibindo a ovulação e assim impedindo uma possível gravidez.

E a menstruação que vem todos os meses, para quem faz uso do anticoncepcional, na verdade, é outra coisa.

“Quando a mulher faz a pausa entre as cartelas, a privação dos hormônios causa o que chamamos de sangramento de privação, e se a mulher optar por emendar uma cartela na outra não há sangramento”, explica a ginecologista e corredora Cidinha Ikerigi.

Teoricamente, essa “falsa menstruação” tende a causar menos cólica, e o sangramento dura menos dias.

Você precisa saber

O hormônio presente na pílula interfere no sistema circulatório, dilata os vasos, a viscosidade do sangue e, consequentemente, a coagulação.

Por isso que se aumenta de duas a três vezes o risco de trombose. É importante dizer que esse problema pode se manifestar quando há predisposição genética ou outros fatores de risco associados.

De acordo com Ikegiri, o uso de anticoncepcional ainda pode estar ligado à queixa de retenção hídrica, dependendo do tipo de hormônio utilizado, e à diminuição do desejo sexual, relacionado à diminuição dos níveis de testosterona ativos.

“Mulheres produzem testosterona em níveis bem menores que homens, e esse hormônio está relacionado à libido, disposição e ao anabolismo (aumento de massa muscular). Então, é de se esperar que níveis mais baixos deste hormônio possam trazer algum prejuízo nesses aspectos”, pontua.  

“Outros efeitos que devem ser monitorados são intoxicação, hepatite medicamentosa e a combinação com outros medicamentos, como antibióticos e anticonvulsivantes”, complementa
Casseb. 

O anticoncepcional atrapalha a corrida, afinal?

Aqui vale a máxima de que “tudo depende do ponto de vista”. Para Ikegiri, entre mulheres que praticam esportes, o uso da pílula oral pode ser negativo para o desempenho esportivo, pois aumenta a concentração de uma proteína chamada SHBG, conhecida portadora de hormônios sexuais.

“A SHBG tem muita afinidade pela testosterona. Ao se ligar a esse hormônio, desabilita sua ação no corpo. Na mulher que pratica esporte, a testosterona é importante, já que está relacionada ao ganho de músculo, melhora da força e também interfere na composição corporal, fatores importantes para o desempenho físico”, explica. 

Já Casseb defende que as corredoras que usam anticoncepcional podem, na verdade, se beneficiar, como conseguir ajustar o ciclo ao período de competições.

“Para as atletas que sofrem interferências físicas ou psicoemocionais e que têm suas performances afetadas pelo período menstrual, é possível programar a menstruação longe do ciclo de competições. Mas essa é uma escolha que deve ser individualizada e feita em conjunto com atleta, treinador e médico”, pontua.

Quando o anticoncepcional é realmente necessário?

  • No auxílio do tratamento de endometriose e casos graves de TPM.
  • Casos de menstruação com sangramentos excessivos.
  • Para mulheres que não ovulam ou que têm síndrome dos ovários micropolicísticos, pois o hormônio da progesterona previne o câncer de endométrio.
  • Para mulheres que possuem níveis de testosterona aumentados, o que causa acne e crescimento de pelos em excesso.

Outros métodos contraceptivos

Quem não quer utilizar o anticoncepcional oral ou outro método com hormônios na composição, pode buscar outros métodos contraceptivos.

Camisinhas masculina e feminina, espermicidas e dispositivos intrauterinos são algumas opções que dispensam o uso de hormônios e são igualmente eficazes.

“O DIU de cobre é uma ótima alternativa. O dispositivo é inserido no útero e dura aproximadamente 10 anos. Funciona através da sua ação local, fazendo com que o ambiente seja desfavorável aos espermatozoides. O eixo hormonal da paciente funciona sem nenhuma interferência”, aconselha Ikegiri.

Elas pararam de tomar tomar anticoncepcional e contam o porquê

Sara Vigiano, 27 anos, corre há um ano

“Comecei a pesquisar muito sobre os efeitos negativos do anticoncepcional, porque tive pessoas próximas que tiveram problemas de saúde por tomar a pílula. Geralmente os médicos não expõem os riscos quando você pede um método contraceptivo. Depois de muita pesquisa decidi parar por ‘N’ motivos: chance de trombose, mudança de humor e histórico de câncer na família. Optei por usar o DIU de cobre, queria me ver livrar dos hormônios. Tive que ser persistente para conseguir pelo convênio, mas também dá para colocar pelo SUS. Com zero hormônio sintético meu corpo passou a funcionar na íntegra: ovulação, TPM e variação de humor.”

Renata Reis, 31 anos, corre há 15 anos

“Me sentia inchada, indisposta, com fadiga e a pele do meu rosto estava com um aspecto estranho. Comecei a ler sobre o uso do anticoncepcional. Lia artigos do Brasil e de outros países e percebi o quão ruim podia ser a pílula. Pela minha pesquisa entendi que em longo prazo pode ser algo destrutivo. Depois que parei minha vida só me anlhorou, minha pele está melhor, meu cabelo não cai mais e me sinto mais disposta. Até a oleosidade da pele do rosto melhorou. Tenho relações sexuais com preservativo e está funcionando. Parar de tomar anticoncepcional dá uma sensação de liberdade.”

Micheli Sossai, 33 anos, corre há três anos

“Em 2016 fiz um exame preventivo de rotina e apareceu uma alteração. Era uma lesão pré-cancerígena no colo do útero. Fiz uma pequena cirurgia para retirar e segui fazendo o acompanhamento. Depois desse susto li bastante sobre o câncer de colo de útero e sobre os possíveis efeitos negativos do anticoncepcional. Em 2016 comecei a correr para perder peso, mas não tive muito sucesso. Em 2017 peguei firme na corrida e na reeducação alimentar, aí funcionou. Em maio do mesmo ano decidi parar com a pílula e conversei com a minha ginecologista, que apoiou. Comecei a sentir as primeiras diferenças no humor, melhorei demais nesse quesito. Minha disposição aumentou, me sinto com mais energia. Meu fluxo menstrual mudou também, sem a pílula ficou mais intenso. Mas a pílula tinha tanto hormônio que o meu fluxo só começou a aumentar depois de sete meses. Acho que, além de preservar meu corpo da carga hormonal, ter parado contribuiu para o processo de emagrecimento. Para prevenir a gravidez eu e meu namorado começamos a usar preservativo e nunca tivemos problemas. Mas devo colocar o DIU em breve.”

Adriana Padilha, 39 anos, corre há 15 anos

“Não tomo anticoncepcional há 14 anos. Minha menstruação nunca foi regulada, essa foi uma das razões que comecei a tomar, mas com o anticoncepcional me sentia inchada, mal humorada e gorda. Decidi parar de vez um ano antes de engravidar e durante esse período percebi que meu corpo respondia melhor aos exercícios físicos. Já praticava esportes há cinco anos, porém não era com a intensidade de hoje. Engravidei da minha filha, hoje com nove anos, e durante a gestação corri dos três aos sete meses, porque me sentia bastante disposta. Hoje, com quase 40, estou na minha melhor forma.”

Rafaela Pedroso, 29 anos, corre há dois anos

“Comecei a tomar anticoncepcional em 2004, com 15 anos, por causa de cólica. Em 2015, estava muito abalada com a doença do meu tio, que na época fazia tratamento contra um câncer na boca. No mesmo período, conheci uma jovem que estava internada fazendo o tratamento pós-retirada do útero.  Um dia conversando com o marido dela, ele disse que o uso contínuo do anticoncepcional desde os 15 anos poderia ter contribuído para a doença se desenvolver.  Aquela informação entrou em mim como uma granada. Chorava como criança, poderia ser eu. No mesmo dia resolvi jogar fora a cartela que ainda estava na metade. Avisei meu esposo que não ia mais usar e decidimos tomar as nossas providências para evitar uma gravidez. Mas as cólicas voltaram.  Todo mês era a mesma coisa: dor, queda de pressão, desmaio, remédios e mais remédios. Eram dois dias seguidos com dor e depois tudo voltava ao normal. Em 2016 descobri que tinha endometriose, mas não queria voltar a tomar anticoncepcional. Encontrei um médico, que é um anjo. Ele me orientou a buscar alternativas que ajudassem a controlar a dor sem medicamento. No meio disso tudo, comecei a treinar para uma meia maratona e tenho a sensação que a corrida foi benéfica para a minha saúde, pois hoje sofro menos com as cólicas. Também medito e faço leituras que têm me tornado mais forte e próxima dessa minha dor. Estamos aprendendo a conviver juntas.”